História e patrimônio

Em imagem dos anos 1910, a primeira Igreja São José, na rua Bragança

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Estamos em 1867, e a confirmação do Padre João Gassner SJ para prestar assistência religiosa aos católicos alemães de Porto Alegre sugeria o início de uma fase de harmonia e tranquilidade.

Só que esse paraíso aindademoraria a chegar. Como já comentamos no capítulo anterior, constituiu-se uma diretoria comunitária disposta a exercer sua influência e pautar as decisões do Padre Gassner. Segundo Rabuske (1971), para esses senhores “ouvir pregação todos os domingos e dias santos era demais para um tempo ‘esclarecido’ como o seu; duas vezes ao mês – tal era seu acordo – era mais do que suficiente”.

O novo surto de cólera que grassou na cidade em 1867, embora em escala bem menor que a peste de 1855/1856, serviu para o Padre Gassner afirmar-se na comunidade não apenas de católicos, mas da própria cidade.

Pe. Gassner aproveitou essa ocasião para levar
também aos luso-brasileiros e aos negros os consolos da religião. Percorria ele todos os dias, da manhã à noite, a cidade, visitando os hospitais (lazaretos) da cólera e as casas particulares, para administrar os sacramentos dos moribundos aos enfermos.

Dos 30 alemães que atendeu, apenas dois escaparam da morte. Parece que essa dedicação destemida a seu mister sagrado conquistou ao padre as simpatias de muitos, também de ateus e
adeptos de outros credos, sobretudo de médicos.

Pe. Gassner aproveitou-se dessa boa disposição e veio a pregar, desde o domingo de Ramos até a
Páscoa, uma missão (popular) aos alemães.

Houve 211 confissões gerais - grande número para as condições da época - como resultado
dessa missão.

Interior da Igreja São José, depois da reforma
conduzida pelo arquiteto João Grünewald

À medida que o jesuíta angariava fiéis e reforçava sua posição na paróquia, crescia também o mal-estar dos católicos alemães de terem de usar a
Igreja do Rosário como uma concessão.

Em 1868, a diretoria comunitária decidiu iniciar a coleta de recursos a
fim de adquirir uma igreja própria. Mas a divisão parecia inconciliável: Padre
Gassner, em 19 de julho de 1868, cria a Associação de São José com a finalidade de angariar fundos para que se erguesse um templo para os católicos germânicos.

Essa iniciativa acirrou os ânimos, e ao cabo de 10 meses o Padre Gassner
pediu transferência, visivelmente magoado pelo conflito.

Seguiu-se nova fase de incerteza, que começou a se encaminhar favoravelmente em agosto de 1870, com a chegada do padre Johann Stratmann SJ a Porto Alegre. Era o missionário ideal - frente a tanta disputa, Stratmann trazia consigo a experiência de ter participado em 1866 da guerra
alemã contra a Áustria, organizando lazaretos, providenciando alimentos e
acolhendo doentes e feridos. Ele agora tinha uma comunidade a ser curada, mas não seria nada fácil.

Parecia um milagre, mas era verdade: a comunidade católica alemã
de Porto Alegre estava pacificada e podia unir forças para construir sua
própria igreja. A comissão foi formada por Antônio Diehl e Egídio Reis,
como conselheiros; Clemente Wallau como secretário; João Birnfeld como
procurador; João Raupp sen. como tesoureiro da Capela de S. José e
Frederico Christoffel como assistente. O documento que formalizou essa
diretoria assinala a fundação da “Comunidade de S. José dos Alemães” de
Porto Alegre. Era o dia 21 de janeiro de 1871.

Em 18 de agosto de 1871, o conselho comunitário comprou a casa nº 63
na Rua Bragança [atual rua Mal Floriano], e imediatamente se iniciaram as
reformas. As paredes do prédio que se tornaria o templo dos católicos já
tinham abrigado interesses os mais diversos. Entre 1838 e 1858, tinha sido
a grande sala de espetáculos de Porto Alegre – o festejado Teatro Dom
Pedro II -, cedendo esse posto a partir de 27 de junho de 1858, com a inauguração do Theatro São Pedro.

Há informações de que o local onde se situava o Dom Pedro II abrigara uma loja maçônica, depois servira como salão de baile, e ainda abrigara leilões. Segundo Lothar Hessel, “A 18 de junho de 1868, em plena Guerra com o Paraguai, foi nesse mesmo local fundado o Partenon Literário.

A Comunidade de São José adquiriu a 18 de agosto de 1871 essa casa da Associação “Firmeza e Esperança”, por intermédio do sr. João Birnfeld, pela importância de 13 contos de réis. “Mestre João”, o célebre arquiteto João Grünewald, que se formara em Colônia e lá recebera o diploma de “Dombaumeister” (mestre em construção de catedral), tomou a si, em seguida, o trabalho de adaptação do prédio, para a sua nova e nobre finalidade.

A transformação atingiu antes de tudo a entrada e o acréscimo
de um andar, para fins de coro dos cantores. Em dezembro, portanto
depois de quase 5 meses de trabalhos em reformas, a capela como
que estava ultimada.

Em 13 de dezembro de 1871, Dom Sebastião autorizou a entrega da capela ao culto público. Quatro dias depois, benzeu a Igreja e nomeou o Pe. Stratmann como seu primeiro capelão, com a permissão de batizar todos os filhos de alemães da cidade, devendo, porém, fazer seu registro nos livros da Paróquia do Rosário. Até 1913,
a capela da rua Bragança acolheu os católicos de origem germânica.

Pacificados os ânimos, entregue o templo, agora a “Comunidade de S. José dos Alemães” de Porto Alegre estava pronta para expandir-se nas áreas social,
educacional e benemerente. Talvez se pudesse chamar de a fase adulta da Comunidade, e isso implicaria mudar novamente de casa.

Sociedade Escolar e Beneficente da Comunidade São José

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